sexta-feira, 24 de junho de 2011

UMA NOVA SERENATA NA CIDADE MARAVILHOSA


Uma Nova Serenata na Cidade Maravilhosa (Detalhe)
Uma Nova Serenata na Cidade Maravilhosa - Óleo sobre Tela - 205 x 130 cm - 2011

Releitura de O Grito de Edward Munch

O Artista (releitura de O Grito de Edward Munch) - Óleo sobre Tela - 60 x 80 cm

Peço desculpas por demorar tanto para fazer uma nova postagem, digamos que nos últimos dois meses eu estava comendo tinta. Abaixo segue a análise e a interpretação desta releitura, que acredito ser interessante para quem tiver a paciência de ler.


ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA OBRA


Como no original, esta obra representa uma figura andrógena num momento de profunda angústia e desespero existencial. Aqui literalmente, o pano de fundo é o interior de um circo que como em uma música gravada por Marisa Monte diz: O mundo é uma escola, a vida é um circo...
Vemos a lona do seu lado exterior (assim como enxergamos os artistas), em movimentos que nos conduz ao interior, esta lona que se funde com um suposto céu nervoso e tempestuoso, em cores quentes (assim como em O GRITO), aqui não como no original, fazendo oposição, mas nos conduzindo a uma platéia eufórica e agitada (em cores frias), em tons de azul e bege, transformando toda a imagem em um bloco único com o seu movimento disforme, passando pelo “palhaço” e completando a sua trajetória na platéia, que com olhares que demonstram a grande maioria dos sentimentos que causam um drama ou uma tragédia.
Esta platéia e suas mais diversas formas de expressões perante a representação do espetáculo mostram certo julgamento em seus olhares, que não raramente chegam as suas conclusões sobre o final de uma obra sem necessariamente, fazer uma análise de todo o seu processo de construção, agindo impulsivamente como que um tsunami que furiosamente (aqui) avança por sobre a sua vítima, o palhaço, que representa unicamente o “artista” (em todos os seus gêneros e múltiplas formas de expressões), em uma representação corporal de loucura e desespero com as mãos segurando a própria cabeça, não como no quadro de Munch, mas realmente exteriorizando o seu mais íntimo grito, que por ironia ou sugestão aqui vemos em um personagem sem a boca, mostrando o desespero de uma alma criativa e atormentada pela arte (entre a benção e a maldição).
Em seus olhos vemos a expressão de quem vive em uma constante busca por alguma coisa perdida ou não encontrada (fato não tão raro aos artistas), as roupas em tons de roxo e preto (cores frias como no original), representa a angústia e a dor e também a morte e o luto, que por vários momentos, também não pouco comum a um artista e a obra dentro dele mesmo.
Aqui, a ponte é substituída pelo piso quadriculado do picadeiro que como no original não se abalou e continua reto, mostrando um mesmo caminho a ser percorrido como na ponte, só que em diversas etapas como num jogo de xadrez.
As silhuetas de dois amigos ao fundo da cena são o mágico e o malabarista (amigos de cena de um palhaço), e em uma possível vida real os responsáveis por manter a vida do suposto artista em ordem, representando seu entorno (família, amigos e responsáveis pela sua carreira), aqui também não são afetados por todo o movimento da cena ao seu redor, mantendo-se retos e estáveis em suas atribuições.

A dor desse GRITO CALADO, como no original, nos mostra que a vida para um artista não é como as outras pessoas a enxergam (eles sofrem por aquilo que somente eles enxergam) a este quadro atribuo as palavras de um grande amigo:

“Os artistas são os filhos prediletos de Deus, que os criou para que os seus outros filhos possam suportar as dores da sua própria existência.”                       

Evandro Cardoso - 03042011